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Uma mulher do fim do mundo: Tempestade

“A maior tortura no cárcere é a falta de informação”

No último dia 21 de março foi realizado a roda de conversa – Mulheres do Fim do Mundo, organizado pelo Coletive de Pesquisa em Arte, Antropologia e Saúde da USP (CPaS), do Departamento de Saúde Ciclos de Vida e Sociedade – (FSP). O evento contou com a participação de diversas militantes ativistas na ativa, que abordaram temas como direitos das mulheres, gênero, diversidades, diferenças, desigualdades e alianças de mulheres para o fim do mundo.

Uma das participantes foi Tempestade (AMPARAR – Associação de Amigos/as e Familiares de presos/as), a sobrevivente do sistema prisional contou um pouco de sua história de luta, presa de 2008 a 2013, e denunciou as condições atuais do sistema prisional brasileiro.

Tempestade durante o evento: Mulheres do Fim do Mundo

A AMPARAR, movimento que Tempestade faz parte, é uma iniciativa que visa orientar familiares e amigos de egressos do sistema prisional em relação a seus direitos sociais; proporcionar um espaço de apoio psicológico aos familiares e amigos de pessoas presas; problematizar a questão do sistema penal na sociedade, aprofundar dimensão política da associação e, por fim, contribuir com o processo de formação da consciência crítica e emancipação política das pessoas atendidas.

Toda esta violência se reflete também contra a família, submetida ao preconceito da sociedade, sendo humilhada nos dias de visita e no cotidiano. Fortalecer um espaço que acolha estas pessoas e contribua com a comunidade para desnaturalizar a violência do Estado contra as pessoas pobres é um papel central do projeto, pois assim se conquista- gradualmente o exercício da participação cidadã da comunidade através do esclarecimento crítico dos contextos vivenciados.

CPP – Butantã

Uma das lutas relatadas por Tempestade foi pelo fechamento do CPP – Butantã, alcançando a transferência de 750 presidiarias para outros CPP´s do estado.  Agora a luta é pelo embargo do complexo. Há estrutura física para tornar o prédio um novo hospital para região, como Tempestade diz durante sua fala – “algo mais útil que uma cadeia”.

Estado atual do CPP – Butantã com rachaduras, vazamentos e o risco de desabamento

Graças a bastante luta de mulheres, como Tempestade, hoje o CPP – Butantã está interditado, contudo as condições que diversas mulheres passaram durante anos no presídio pode se repetir nos demais, não é apenas um caso isolado, visto há má administração e aloucamento de recursos. Durante sua fala Tempestade informa que o custo de um preso é de 4 mil reais por mês, contudo o que é visto nos presídios é uma realidade muito distante da dos recursos “disponíveis”. Atualmente quase 10 mil mulheres estão presas em unidades prisionais e hospitais de custódia no Estado de São Paulo. Os dados são da SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária).

Em uma reportagem para a Ponte.org, para a jornalista Beatriz Drague Ramos, a assessoria de imprensa da SAP, da gestão de João Doria (PSDB), foi procurada e informou que o CPP do Butantã passará por reformas. A Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que, após consulta realizada nos sistemas de dados da Coordenação Municipal da Defesas Civil, “não foi constatado desde o ano de 2013, nenhuma vistoria feita pelos agentes da Divisão de Prevenção da Defesas Civil no CPP Butantã”

A roda de conversa já está disponível, na integra, no YouTube do CPaS 👇👇👇

por Ma Vinicius de Moraes